terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Visão Gastronômica

 


O inicio do ano é sempre o momento de abrir uma porta para o desconhecido, um esboço já delineado para os mais velhos e sem limites para a juventude.
A sabedoria brasileira faz com que o ano novo se inicie no fim de fevereiro, após o Carnaval, o que nos dá o tempo de refletir e analisar as tendências globais e vislumbrar o possível caminho a seguir e um dia novo a todo amanhecer.
Espelho, espelho meu, diga-me qual serão as tendências que virão para ficar na gastronomia, as que já estão se despedindo depois de um sucesso efêmero, desgastadas ou enjoativas, e as que estarão de volta ao mundo dos sabores?
Qual serão os pontos de destaque da oitava arte para os futuros anos?
Relembrando o caminho do homem, o fogo, a agricultura, a pecuária, a sociedade, a cultura, a gastronomia não está à margem da sociedade, ela interage, dita e acompanha os movimentos que se apresentam para toda a sociedade atenta.
Mesmo se a reunião sobre o clima de Copenhague resultou num pálido diagnostico da nossa responsabilidade na Terra, o assunto está tomando um único sentido. Pensar a natureza, viver em concordância com as estações para tentar preservar o ser humano e o planeta.
Continuaremos a desenvolver o plantio em grande escala para alimentar o mercado no varejo e exportar em grande quantidade.
Vamos assistir ao ultimo sopro de vida da batata inglesa que, exaurida pela sua exaustiva exploração, está perdendo sabor, textura e personalidade.
Teremos, além de todas as especificações descritas nos rótulos dos produtos, uma marca distinta que, ao primeiro olhar, nos permitirá discernir os produtos de origem selvagem/natural/orgânica das dos cultivados ou produzidos em grande escala.
Os ingredientes étnicos e regionais serão plenamente valorizados, carregando no seu nome/rótulo a memória histórica do seu fazer e na sua essência a pureza da origem da sua matéria-prima.
Os produtos da Amazônia tendem a se firmar no Brasil e na Europa, já são reconhecidos como componentes dos cosméticos. Na gastronomia o resultado ainda é tímido.
A corrida ao “ouro-verde” será marcada pela procura de novos sabores, texturas e perfumes, cujo patrimônio do uso se encontra ainda salvo na memória das donas-de-casa, em frutos redescobertos, colhidos ou catados, numa natureza ainda virgem.
O retorno e o desenvolvimento das feiras de rua e dos mercados públicos, com pequenos estandes vendendo iguarias locais e sazonais por conhecedores da matéria.
A busca por produtos locais será cada vez maior, com destaque para os ingredientes com menor interferência química e modificação genética.
A cozinha de bistrot, o prato-do-dia, a comida de botequim, os restaurantes e as receitas com personalidade terão sucesso garantido.
A quantidade dos pratos oferecidos nos cardápios dos restaurantes tem tendência a diminuir, na procura de afirmar sua identidade e controlar o desperdício.
Carne de caititu (ou cateto), de queixada e capivara serão as novas tendências nos cardápios dos restaurantes arrojados.
As geléias, o leite orgânico e seus derivados, os pães artesanais voltarão a acompanhar cada vez mais as refeições familiares.
Os doces voltarão sem culpa, em tamanho menor e com dosagem de açúcar minimalista, para nos ajudar a aguentar as turbulências eleitorais e as incertezas que teremos pela frente.
Um cuidado introspectivo para nos conscientizar da felicidade que esta terra nos proporciona.
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