domingo, 17 de outubro de 2010

Dicas de sucesso

 

Farinheira - Foto Mequita
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Quando questionado por mulheres e homens sobre como realizar um menu de sucesso e aprovação, minha primeira dica é sempre a mesma: o sucesso de um prato depende antes de mais nada dos cuidados com a qualidade dos ingredientes escolhidos. Essa é a base imprescindível aplicável a qualquer receita. É por isso que, quando sou convidado a realizar eventos, procuro meus ingredientes nas feiras livres, nos mercados municipais e nos pequenos produtores sempre que possível.

Algumas dicas:

Quando você for escolher uma verdura, sua cor e seu aspecto servem para definir sua escolha. Depois de ter chamado sua atenção, é preciso pegar um pedaço da folha para sentir sua resistência ao corte, dado importante para definir seu tempo de cozimento ou estrutura física para aguentar a montagem de uma salada composta. Esfregue entre os dedos o mesmo pedacinho para depois cheirar as essências nele contidas e direcionar assim a quantidade relativa necessária para ressaltar a sua presença como ator principal ou como ator secundário.

Para os legumes o principio a seguir é o mesmo das verduras, com atenção redobrada para a textura do ingrediente. Apóie a unha do dedão na casca do cará ou do inhame para se certificar de que o tubérculo é novo e sua pele se abre sem esforço revelando a carne branca.

Para a escolha das frutas, aí as feiras públicas e os mercados municipais são show de bola. Você passa no meio das bancadas coloridas, verdadeiro campo de prazeres, regalo para o bem do olhar, que estimula a criatividade. Os perfumes exalam a sazonalidade dos seus produtos maduros, tudo isso com o fundo musical popular sustentado pela fala sedutora, repentista, cheia de improvisos dos feirantes. Um pedaço de fruta cortada na hora na maioria dos casos lhe é oferecido sem roteiro para você fazer seu próprio juízo da qualidade da matéria.

Para a escolha dos peixes e frutos do mar, nada melhor que um especialista que lhe aconselha além de olhar olho no olho brilhoso da sua escolha, levantar as guelras para confirmar sua cor rosada, apoiar o dedo na peça escolhida para sentir a resistência da sua carne e, por fim, se ainda duvidar, levantar o produto até o rosto e sentir se o cheiro exalado é de frescor presente ou passado.

No caso das carnes vermelhas, quem sou eu para tentar entrar no mérito, a maioria proveniente de boi verde e de preferência certificada tem até no sabor da sua gordura o histórico da sua vida. Compre sempre carnes resfriadas para a realização do seu prato. Elas saem sempre na frente das outras por serem mais suculentas.

Em geral, aos sábados, nas pequenas cidades do interior do país, seja Bento Gonçalves, Cabrália ou São Bento do Sapucaí, pequenos produtores levam o fruto de seu trabalho, criado ou plantado nos sítios dos arredores, para ser vendido na rua ou na pracinha.

Essas são algumas dicas que, além de animar sua disposição para a realização da sua receita, permitirão encarar a sua futura tarefa com maior possibilidade de sucesso.

NB: Nós vamos votar no dia 31 de outubro e os conselhos e exercícios sugeridos aqui, na área da culinária para que os elementos conspirem a seu favor na realização de uma receita de sucesso, podem também se aplicar no sentido figurativo na escolha do nosso candidato a Presidente.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Culinária Barroca Contemporânea

Vale a pena assistir Chefs Especiais

Faz cinco anos que sigo as ousadas e polêmicas criações do chef Henrique Fogaça na gastronomia brasileira sem conseguir situar com clareza e nem definir sua linguagem. Ele e sua mulher Fernanda estão apresentando, no restaurante Sal Gastronomia, uma paleta de sabores e produtos bem brasileiros que não remetem a nenhum parâmetro ou cópia de tendências já existentes. Um vinho tinto sedutor pelo nome "Douce Folie”, Château La Bastide da região do Languedoc, acompanhou a sucessão de pratos elaborados e apresentados pelo chef. Um robalo assado em postas com molho de azeite e coentro acompanhado de uma farofa de pão de miga e castanha de caju, banana nanica grelhada e mini alcachofras me desconcertou de novo. Todos os sabores estavam bem definidos, o peixe com cozimento impecável e o equilíbrio e casamento dos múltiplos gostos estavam delicados e inovadores. Observei com atenção o restaurante, com sua cozinha e os afazeres dos seus autores a vista, graças a uma grande janela, a decoração apurada e aconchegante, sem excessos nem erros no gosto. Convidei o casal para a nossa mesa, no fim do almoço. Fernanda ficou entre minha mulher e minha cunhada, eu estava bem na frente deste chef que tanto me intrigava. De cabeça raspada várias tatuagens apareciam, coloridas, nos antebraços, e ele tem um 1974, seu ano de nascimento, tatuado em negativo no gogó. Falamos dos seus pratos. E ele definiu com muita segurança sua cozinha como própria, “é meu modo de me expressar na linguagem dos sabores”, sou eu. A luz de uma possível definição do trabalho do chef 1974 no campo das múltiplas identidades nacionais desenhou-se com mais clareza. Lembrei-me das visitas feitas às várias igrejas, conventos e mosteiros ao longo das minhas viagens pelo Brasil, da musica do padre José Mauricio Nunes Garcia, das esculturas do Aleijadinho. O Barroco com seu estilo artístico rebuscado, importado da Europa e aqui adaptada e fundido aos elementos regionais. Lá estava a definição mais apropriada da arte desse chef brasileiro: uma culinária barroca contemporânea.