A era da colonização migrava definitivamente para um novo rumo. O mundo e a geopolítica estavam acertando suas fronteiras e revendo sua estratégia de poder. Foi um ano de grandes negociações e de libertação para os países colonizados na África. Naquele ano, o Brasil estava inaugurando sua nova capital, deixando definitivamente o Rio de Janeiro rumo ao centro do país.
Baseada num levantamento feito na época do Brasil Imperial, a pedido de Dom Pedro II, em 1892, a Comissão Exploradora do Planalto, conhecida como Missão Cruls, do engenheiro belga e estudioso de Geografia e Astronomia Louis Ferdinand Cruls apontou desde aquela época o lugar estratégico do Planalto Central para a construção da nova capital.
Já passou mais de uma década desde quando a professora Cecília Londres me levou, como estrangeiro, para conhecer os monumentos de destaque e o histórico da cidade. E o Embaixador Murtinho me apresentou os meandros do Palácio do Itamaraty e descobri seu empenho pessoal em transferir as embaixadas do mundo para reforçar o frágil e contestado poder da Capital.
Lembro-me de ser tomado por uma incompreensão logística e cultural quando, pela primeira vez na minha vida,conheci o jovem Chef do Capim Santo que tinha a mesma idade que a Capital.
Cheguei de São Paulo cheio de receios, tomado pelas lembranças vividas numa megacidade, dinâmica 24 horas por dia, com um predominante caráter empresarial. No roteiro percorrido, muitos preconceitos colhidos por informações truncadas e limitadas sobre a vida de passagem que levavam os moradores na Capital.
Muitos dos preconceitos se apagaram por si mesmos. Encontrar uma cidade verde, com qualidade de vida, parâmetros humanos e uma vida cultural variada e rica me ajudou na procura do querer entender.
Em uma década, sinais de modernização apontavam para a tentativa de uma cidade cunhar sua personalidade e para um querer, da parte dos candangos, seguir o rumo próprio da construção cultural da nova e cosmopolita capital, miscigenação de nordestinos, sulistas e nortistas em terras do Centro-oeste.
O tamanho da maioria dos restaurantes da cidade remetia muito mais a grandes refeitórios. O ingrediente mais comum a todos os cardápios das casas existentes era o camarão. Numa terra sem mar. A melhora na qualidade das pizzas foi, sem dúvida, a primeira manifestação, no campo da gastronomia, a ser percebida aqui nesta ultima década.
Lentamente, as variedades de culinárias regionais e de outros países se multiplicavam e se diversificavam, criando novos horizontes.
O antigo Yoshida uma das melhores frutarias desde a década de 70 mudou o nome para Nippon, ampliou suas instalações a partir de uma nova concepção de loja de alimentação reunindo no mesmo espaço legumes e frutas frescas, laticínios e frios, pães e doces, no primeiro andar um restaurante aguarda vc com uma cozinha internacional caprichada, típica dos anos 80.
Eventos tendo como tema a gastronomia receberam da mídia local, o apoio e o destaque cultural merecidos.
Escolas particulares com aulas técnicas de culinária se multiplicaram, com o sucesso assegurado pela quantidade das matrículas e por um mercado potencial em expansão.
Brasília vive hoje seu renascimento e pode muito mais.