terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Lucila- pães artesanais, orgânicos... um bom endereço em Florianopolis

Na praia de Jurerê, um endereço recomendável pela proposta e pela qualidade dos produtos oferecidos.
Produtos orgânicos cultivados na Ilha de Florianópolis.
Pães artesanais variados preparados por Marcio Leal, graduado em panificação e confeitaria pelo Instituto Federal de Santa Catarina e que se especializou no Bakery Institute de San Fransico.
Vale!
Alameda Cesar Nascimento,322 Jurerê - Florianópolis SC

 
 
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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Vale ler com atenção a última publicação de Carlos Doria: as trapaças da industria alimentícia estão indo muito além do simples jogo na bolsa de valores, ameaçando sua saúde...até tu Europa!




 

Conforme procuramos analisar anteriormente a crise européia dos cavalos moídos para hambúrguer está longe de terminar, visto que a “caixa preta” apenas foi aberta. O que há no seu interior vamos sabendo aos poucos, mas já nos permite outras reflexões.

 

I

 

Em primeiro lugar, há muito mais empresas envolvidas do que à primeira vista. Parece se tratar de uma prática comum, e não de uma ação isolada de produtores inescrupulosos. Anteontem foi o dia de aparecerem a Nestlé (proprietária da Findus), o frigorífico JBS e outros. Segundo o ministro da agricultura da Irlanda “o produto da Findus que continha 100% de carne de cavalo é uma mostra da complexidade do problema. Esses produtos eram feitos por uma empresa sueca que, na verdade, comprava produtos processados de uma empresa francesa em Luxemburgo, que comprava produtos por meio de um operador cipriota, que comprava na Holanda; e a Holanda, na verdade, comprava carne de cavalo da Romênia". Estes, então, são os verdadeiros elos do que se convenciona chamar “cadeia alimentar”, ligando as terras do conde Drácula à bolsa de mercadorias de Londres.

 

Na verdade, uma simples cadeia de commodities movida não por princípios alimentícios, sanitários, ou éticos, não pelo encadeamento de produtos e processos controlados, mas pelo chamado “custo de oportunidade”. Veio à luz, por exemplo, que o dono de um abatedouro foi contratado para retirar cavalos com lesões mortais de uma competição britânica, a Grand National. Cavalos inservíveis moídos. Mas cavalos aos quais, como se comprovou em parte, fora ministrada fenilbutazona, nociva à saúde humana. Abutres, a única palavras que me ocorre.

 

Em segundo lugar, aparece o motivo do envolvimento do JBS no assunto rumoroso. Como a carne brasileira vem sofrendo restrições - graças a caso comprovado de “vaca louca” (encefalopatia espongiforme) em nosso rebanho, em 2010 - o frigorífico entendeu que devia fazer uma operação triangular, comprando carne européia como medida para evitar que eventuais mudanças legais ou barreiras ao comércio internacional prejudicassem o fornecimento aos seus clientes. Mais uma razão meramente econômica, de defesa de posição no mercado, leva o gigante brasileiro a comprar gato por lebre, cavalo por boi.

 

Em terceiro lugar, acusado de "complacência catastrófica", o governo britânico reage prometendo "a maior investigação já feita" sobre atividades criminosas na Europa, para descobrir como a carne de cavalo entrou no hambúrguer, na lasanha, etc, etc. Certamente um caso mais de auto-análise do que de “investigação”.

 

A JBS prometeu corrigir-se, e a Nestlé também. Essa afirmou: "Queremos nos desculpar com os consumidores e assegurá-los que as ações que estão sendo tomadas para lidar com esse problema vão resultar em padrões mais elevados e melhor rastreabilidade." Os grandes players buscam tirar o cavalo da chuva, reconhecendo que sua “rastreabilidade” foi, até agora, pífia.

 

II

Por que o consumidor, abalado na sua confiança na indústria e nos governos, acreditaria que eles irão se emendar daqui em diante, como crianças pegas com a mão no pote de balas? Certamente o único caminho será re-acreditar a rastreabilidade, e isso depende de ser feita por novos atores, por organismos independentes, controlados e vigiados por representantes dos consumidores, distantes dos governos e das grandes corporações.

Em segundo lugar, será preciso acoplar mecanismos de vigilância sanitária às próprias operações financeiras com commodities alimentares. Não é possível admitir que qualquer coisa de comer passe, como uma simples troca de papéis e transferências bancárias, da Romênia para Chipre, para a Holanda, por Luxemburgo, para chegar na França sem ter sofrido algum tipo de inspeção que certifique seu valor comercial como alimento sadio.

O que move essa cadeia de alimentação financeira é uma razão que jamais chegará de modo transparente às gôndolas dos supermercados. Afinal de contas, a dança dos cavalos só mostra que a lógica dos negócios em bancos e bolsas de valores - como a participação de ações do agribusiness em fundos de investimentos - se tornou autonoma de um modo que os consumidores reconhecem como perigosa.

III

Está visto que a financeirização da comida aporta riscos e incertezas à mesa, nos fazendo mal ao espírito e ao corpo. No entanto, a ofensiva dos grandes conglomerados agroalimentares não cessa. Ao contrário, escolhe um dos piores momentos de sua história para avançar via legislação: em 14 de fevereiro a Comissão Européia anunciou que os peixes de cativeiro poderão, novamente, ser alimentados com farinhas de porcos e aves, já a partir de 1º de junho - segundo o Le Monde.

Por conta da epidemia da “vaca louca”, a França havia abolido esses componentes da ração animal em 1996, sendo que a União Européia consagrou o mesmo procedimento em 2001. A França se opõe à medida, agora anunciada, contra a qual já votara em meados de 2012. O Ministro da Ecologia, Delphine Batho, propõe a criação de um rótulo que estampe os dizeres “sem farinha animal”. Para ele, “não é da lógica da cadeia alimentar que se dê de comer carne aos peixes. É a mesma lógica financeira absurda que se constata para a carne de cavalo”. Ele quer salvar a “cadeia pesqueira”.

Mais virulenta, a Confederação dos açougueiros, declarou: “É uma loucura a mais. Bruxelas cede às pressões da indústria agroalimentar. Essa mesma industria que não hesita para fraudar e aumentar seus lucros enquanto solapa a confiança dos consumidores”.

E basta dar uma busca na net para se descobrir empresas brasileiras que fabricam farinha de restos organicos - inclusive penas de frangos - para alimentação de peixes. O Chile é o nosso grande importador desse insumo para produção de salmões de cativeiro que, depois, comeremos em belos sushis em nossos restaurantes mais estimados.

IV

Diante desse quadro internacional, o Brasil não é uma ilha de sanidade animal cercado por interesses financeiros insanos por todos os lados.

Leio estudos científicos que dizem; “as salsichas comercializadas na Região Metropolitana do Recife apresentam índices comprometedores de nitrato, principalmente as das indústrias que abastecem as feiras livres, fato agravado pelos altos níveis de nitrito também presente”; vejo a legislação que autoriza certos níveis de inclusão de vísceras e cérebros animais na mortadela, e tantas outras coisas condenadas pelas boas práticas alimentares, e me pergunto: onde está a Anvisa?

Por que a Anvisa insiste em nos fazer de idiotas, vendo chifre na cabeça de cavalo, criminalizando a produção artesanal - como do queijo de leite cru - quando os grandes conglomerados alimentares deitam e rolam, alheios às pesquisas sobre o que faz mal?
Precisamos meditar sobre essa manobra sórdida que consiste em ver riscos na produção artesanal, quando o mundo todo vê que eles estão abrigados, como ovos de serpente, na grande industria

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

"Bife a cavalo" ou "Bife de Cavalo" por Carlos Dória

O hambúrguer das cavalgaduras


Produtos 'batizados' com carne de cavalo põem a nu contradições recorrentes da alimentação industrial


16 de fevereiro de 2013 | 16h 00
Carlos Alberto Dória - O Estado de S.Paulo

A alimentação humana é sempre assunto contraditório, pois os homens não possuem valores uniformes em relação ao que comem. Dessa perspectiva, o "escândalo" sobre o consumo involuntário de carne de cavalo pelos europeus possui ao menos dois aspectos dignos de nota. O primeiro diz respeito à credibilidade dos produtos da indústria. Por que deveríamos acreditar cegamente nela se, está provado, nos engana? O segundo remete ao arranhão que provocou no padrão cultural de carne que o Ocidente consome. Boi é para comer; cavalo, para esportes.
A primeira grande suspeição em relação à carne industrial surgiu por ocasião da chamada "crise da vaca louca", em 1986, na Inglaterra. Apesar de a doença ter sido detectada entre carneiros nos EUA, em 1947, ela só foi verificada em humanos na Nova Guiné, em 1955, valendo um Nobel de medicina a Daniel Gajdusek, em 1976, por descobrir a causa da encefalopatia no consumo de cérebros e vísceras, conforme ritos funerários canibais. Ora, como não nos consideramos canibais, o problema parecia distante. Apesar do conhecimento do que produzia a encefalopatia, a grande indústria da carne não renunciou a cérebros e vísceras na ração bovina, obrigando-os a um canibalismo contrário a sua natureza herbívora. Só com a epidemia no rebanho britânico é que, em 1988, o governo proibiu a utilização de farinha animal na ração.
Mas o estrago já estava feito. A repercussão planetária de um "problema veterinário" colocava o consumidor à mercê de um risco insuportável. E até hoje, inclusive entre nós, floresce uma próspera indústria de rações que formula sem transparência a alimentação de bois, aves ou peixes - ministrando restos orgânicos de um gênero ao outro, o que, hipoteticamente, poderia produzir uma contaminação cruzada. Num certo sentido, como disse o antropólogo Lévi-Strauss, somos, sim, todos canibais; ao menos se considerarmos que, nos tempos bíblicos, homens e animais eram irmanados e só depois da Arca de Noé é que começamos a comer nossos semelhantes. E, se nos comemos uns aos outros, é claro que um só destino se desenha no horizonte. Afinal, como diz o mantra dos gourmets, "somos o que comemos".
A importância da vaca louca foi a transcendência que a crise adquiriu. A partir daquela epidemia houve enorme retração do consumo de carne e surgiram ONGs a exigir dos governos perfeita transparência nas transformações ocorridas na cadeia que liga o campo à gôndola dos supermercados. O vegetarianismo cresceu como ideologia alimentar e se multiplicaram as certificações de produções "bio", "naturais", ou "orgânicos". A rastreabilidade da produção tornou-se um novo dogma do comércio.
Agora, a descoberta da carne de cavalo em produtos da indústria mostra a quebra de confiança nos padrões atuais de rastreabilidade, construídos a duras penas. Os governos, que em última instância são seus garantidores, foram postos em xeque e será necessário jogar às feras alguns expoentes da indústria, como o Food Group ABP, cujos tentáculos na Irlanda iniciaram essa nova crise. Além disso, imporão aos produtos o teste de DNA, essa verdade moderna vulgarizada por séries como CSI, para desvendar crimes.
As razões para esses desvios da norma desejada são sempre as margens de lucro que propiciam num mercado duramente concorrencial. Inócuas etiquetas quantitativas nutricionais nos revelam muito pouco do que atualmente interessa ao consumidor: a qualidade do produto. E o que temos de fato dentro de uma mortadela, uma salsicha ou um hambúrguer? Tínhamos a confiança cega de que a indústria zelava por nós. Entende-se, portanto, por que a sociedade reage utilizando o termo "falsificação", como se descobrisse uma traição imperdoável, urdida nas altas rodas das finanças e gabinetes governamentais.
O próprio juízo sobre a indústria não escapa às vicissitudes históricas. Quando, em 1869, o químico francês Mège-Mouriès aplicou a saponificação para produzir manteiga diretamente da gordura dos bovinos - a prosaica margarina - o agro francês se levantou em pé de guerra taxando a descoberta de "falsificação". A manteiga "falsa" levou anos para encontrar seu lugar no mercado, num percurso cheio de compromissos que incluiu a produção da beurrine - composto misto de manteiga e margarina. Hoje se sabe, a lei das fraudes e falsificações francesa, de 1851, veio à luz justamente para barrar o avanço da indústria sobre a produção rural tradicional. E essa "beurrine" moderna, mix de carne bovina e equina, não está muito distante desse quadro de competição entre produtores, sempre tentados a adotar soluções mais baratas, moendo cavalos imprestáveis.
No entanto, numa dimensão mais profunda, não estamos dispostos a conceder que qualquer carne seja admissível na nossa dieta. Apesar de se ver carne de cavalo à venda em açougues franceses e italianos, não são todos os consumidores que consideram esse produto comestível. Assim, o "direito de escolha" também foi violado de maneira grave.
Nos repugna que certos povos possam comer cães - esses pets tão maravilhosos que vêm num longo processo de "humanização" no Ocidente (que começa com a designação "he" ou "she" para seres que, antes, eram "it") até culminar na "Declaração Universal dos Direitos dos Animais" (Unesco, 1978), que praticamente os considera membros da família humana. A velha noção de canibalismo perturba nosso espírito quando descobrimos um animal de espécie próxima (doméstica) ou distante (selvagem) sendo comida. Proíbe-se a caça e, de quebra, exige-se tratamento humanitário para os animas de abate; não é à toa que os antigos matadouros foram rebatizados como frigoríficos, substituindo a consciência do sangue e do sacrifício pela imagem da rigidez cadavérica.
Por outro lado, num estudo desbravador, o historiador norte-americano Warren Belasco mostra como, no Ocidente, comer carne bovina se tornou sinônimo de "civilizado". Apesar da diferença de dietas dos povos, mesmo a FAO, em seus diagnósticos sobre a fome no mundo, apontava déficits graves de nutrição nas civilizações milenares da China e da Índia pelo baixo consumo de carne bovina. Mas sem esse mito ocidental do século 19 não compreenderíamos a expansão do faroeste norte-americano nem a ocupação dos pampas argentinos. E foi a invenção dos navios frigoríficos que permitiu, a partir de 1880, à frozen meat cruzar o oceano em direção às mesas europeias.
Ora, todo traço alimentar serve para identificar os povos e estabelecer suas fronteiras culturais. A identidade repousa na cor da pele, na língua, nos hábitos alimentares. Somos "comedores de bois", não de cavalos, nem de formigas ou porquinhos-da-índia. Além disso, os cavalos trazem à memória outros fatos históricos. Durante muito tempo foram signos de distinção da aristocracia; em guerras não tão distantes, aqueles que admiravam essa nobreza do cavalo foram obrigados a comê-los para não morrer de fome. A carga cultural do cavalo reforça a primazia da carne de boi à mesa. Nós, brasileiros, comemos boi sob a forma de "bife a cavalo", numa alegoria culinária que nos lembra de que esse animal é para ser montado, nem que seja por um reles ovo frito.
A chamada "angústia alimentar moderna" - a certeza de que não sabemos o que comemos - aviva-se agora no cotidiano europeu por conta da "fraude" na composição de hambúrgueres, kebabs e lasanhas. Por enquanto, nada que não seja relativamente comestível, nada que esteja contaminado, mas a abertura da "caixa-preta" certamente trará novas revelações. Enquanto isso, a Europa se escandaliza com a clara ruptura de um padrão alimentar, histórico e consagrado, por uma sórdida estratégia de capitalistas gananciosos.
Que defesa pode haver contra isso? Seguramente um impulso grande em direção à comida tradicional de "terroir", ao "locavorismo" e outras propostas que aproximam o consumidor do universo dos produtores. Uma bela utopia que esteve à espera da confirmação de que a indústria, infelizmente, não merece a confiança cega que nela depositamos há séculos, quando nos prometia um futuro radioso. Uma ruralidade mais próxima - ainda que meramente alimentar - poderá avançar nos interstícios de um mundo que se quer pós-moderno.
* CARLOS ALBERTO DÓRIA É DOUTOR EM SOCIOLOGIA PELA UNICAMP, DIRETOR DO CENTRO DE CULTURA CULINÁRIA CAMARA CASCUDO - C5 E AUTOR DE A CULINÁRIA MATERIALISTA E A FORMAÇÃO DA CULINÁRIA BRASILEIRA. MANTÉM O BLOG ESPECIALIZADO E-BOCALIVRE

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

"Brasília, 1321" por Frederico Lucena de Menezes


 Aproveitei as nuvens pesadas que encobriam a ilha de Florianópolis em Santa Catarina para ler o livro cujo o titulo” Brasília, 1321 “ e a resenha aguçaram minha curiosidade.  

No livro o professor Celso, doutor em História do Brasil  recebe um e-mail de uma colega, Catherine, da Universidade de Louvain pedindo ajuda na pesquisa de campo sobre a chegada dos Cátaros no País.

Na narrativa acompanhamos um senhor de meia idade durante os feriados em Pirenópolis e Goias Velha e numa viagem ao Portugal, Espanha, Bélgica e França, compartilhando sua angustia cósmica, cultural, religiosa e humana. O  pano de fundo rico em pesquisa histórica nos leva a entender a origem dos grandes movimentos na Europa que motivaram a descoberta das Américas.

O romance alinhava com destria a força dos poderes que regiam os séculos XV e XVI na Europa com  uma ambientação precisa na Brasília do século XXI.