Teorias, pesquisas e reflexões sobre a gastronomia brasileira, por Quentin Geenen de Saint Maur
quarta-feira, 3 de março de 2010
O Senhor Bode
Fotografia de Remo Savissar (Estônia)
Viva João Pessoa da Paraíba!
Com a minha ida à João Pessoa, fecho o circuito das visitas às capitais do Nordeste.Todas parecidas no tipo de ingredientes utilizados na suas respectivas cozinhas, mas diferentes no modo de compor e temperar suas receitas.
A culinária de João Pessoa remete mais à cozinha do sertão, mesmo estando na beira do mar. Engano nosso: a capital nasceu nas margens do rio Sanhauá por motivo estratégico-militar e está hoje abrindo seus horizontes para o mar.
Cá estou nos bastidores de um palco com Isabela e Chico Cesar, assistindo à explosiva apresentação de Elba Ramalho, levantando os braços e os corações dos pessoenses. A última vez que ouvi falar desse ícone nordestino em Brasília foi quando ela apoiou, como cidadã, o movimento contra a transposição do rio São Francisco.
Primeira refeição ao amanhecer: batata-doce com mel-de-engenho, tapioca, queijo coalho, cuscuz, pamonha, bolo de mandioca, suco de umbu e de graviola.
Sandra Vasconcelos, colunista de gastronomia e minha anfitriã, me levou para reconhecer a variedade dos produtos regionais no recém-reformado e luminoso Mercado Municipal, no centro da cidade. Do contato com os ingredientes locais, destacava-se uma grande variedade de feijões, favas e um arroz vermelho oriundo do Sudeste asiático (arroz de Veneza ou arroz-da-terra). Conta a historia que este arroz foi trazido para o Brasil pelos açorianos e, segundo o proprietário da Fazenda Tamanduá, teve sua cultura proibida em 1772 pelo governador do Maranhão, interferência que perdurou por aproximadamente 120 anos e quase resultou na sua extinção.
Fomos almoçar no “Vila Cariri”, com seu cardápio em formato de livro de cordel: “ Buchada e carne-de-sol, moqueca de peixe e pirão, rabada e jerimum, farofa, charque e feijão. O resto o freguês manda, só come bom é quem anda pras bandas desse mundão.”
Pedimos uma porção de tripinha de bode crocante, linguiça de bode com uma farofa e vinagrete, feijão-verde temperado levemente com coentro e manteiga de garrafa e o melhor cuscuz individual que já comi, coberto com nata quente acompanhado de uma carne-de-sol desfiada e refogada com muita cebola.
Estivemos também no “Mangai”, restaurante a quilo que confirma a importância deste tipo de casa, que valoriza e populariza com muito capricho a saborosa cozinha regional.
É no bairro de Tambaú que se encontra a maior variedade de restaurantes e passear a pé a noite na região é muito sossegado; a única dificuldade para o visitante de passagem pela capital é de se locomover nas calçadas invadidas por carros.
Outra particularidade de João Pessoa é de lá se encontrar restaurantes montados em casas particulares, o que torna o cenário mais aconchegante e informal.
Vários restaurantes entraram no movimento moda/decoração, valorizando e investindo mais no espaço arquitetônico e no ambiente do que no cardápio e na sua própria cozinha.
O passeio no calçadão na beira-mar permite ao turista fazer uma agradável refeição em quiosques bem cuidados, experimentar carne de caranguejo desfiada e delicadamente temperada, “tadinhos”, alevinos fritos, espeto de garoupa caramelizada pelo calor do fogo do braseiro, tendo como fundo musical o doce balanço do leve e traz das ondas do mar.
Antes das seis da "noite", vale assistir ao pôr do sol na Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura & Artes, com sua vista imperdível de 360 graus sobre a mata Atlântica, a cidade e o Oceano Atlântico.
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Adorei este passeio por João Pessoa através do seu texto.Me transpus de Salvador à JP levada pelas suas palavras, que maravilha! Abracei a amiga e blogueira, Sandra; comi junto com vc as iguarias que eu adoro!Ahhhhhhhhhhh minha Paraíba querida!
ResponderExcluirSaudadessssssssssss
Ps: tem um texto no blog do vilacarri sôbre o arroz vermelho ou da terra( como na minha infãncia) confira.
Abçs paraibanos com gosto!Linda
Olá Querido Quentin,
ResponderExcluiradorei a foto das cabras na árvore. Ví uma cena destas registrada na National Geographic, mas a foto não era no nosso Brasil. Belíssimo registro!
Sempre boas as tuas fotos.
beijo com saudades. Domitila