quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Tempo na mesa

 
Posted by Picasa


Um dia de almoço servido numa mesa comprida... Tenho um especial gosto em participar destes encontros. Eu tinha sido convidado para almoçar numa casa de campo com uma turma de amigos e filhos de amigos.
Vários rituais do comer não tinham sido compartilhados depois da ultima refeição feita com os nossos anfitriões. A cada dia três, pelas minhas contas mais de 1195 refeições. Se consideramos que, a cada serviço, o tempo passado na mesa, onde não se envelhece, é uma fração da nossa história de vida. Isso me permitiria escrever um roteiro sobre cada um dos convidados, pressupondo que o ritual da mesa, repetia-se no café da manhã, no almoço e no jantar.
Para falar a sonhadora verdade, eu estava ainda viajando na história de cada um, sentado no seu devido lugar, naquela mesa. Além da tentativa de fixar os nomes às figuras, eu estava mais atento em resgatar a historia de vida de cada um, afim de encontrar neles mais razões por aqui estar .
Com surpresa e susto chega aos meus ouvidos uma pergunta: É você, Quentin?.
Mal tinha chegado ao terceiro figurante, acordei pela manifestação da curiosidade natural e coletiva de querer saber o que eu estava fazendo em Brasília.
— Sou um NHM!
Silêncio... Até os pensamentos pararam de zumbir no ar, sem ser a hora, vinte minutos menos ou mais, do anjo passar. A resposta veio assim sem pensar, crua e nua, para acordar e encurtar o assunto.
Continuei meu passeio pela vida de cada um. Quando estava chegando na juventude sentada lá no fim da mesa, uma nova pergunta caiu no meio do meu prato, strogonoff com batata palha.
— Vamos ver se você é um bom dono de casa...quantas vezes vai ao supermercado por mês?
— Vou duas vezes por dia à quitanda, ao empório ou outras pequenas lojas de ingredientes alimentícios.
Silêncio de meio dia no Cerrado no mês de agosto..., mais quente, mais seco, mais fundo e mais sem fim.
Ele é filho do de barba, e ela, de quem será filha? Atiro-me para dentro do olhar da jovem, penetro pelos olhos e saio pelo sorriso desconfortável que ela forçava, constrangida de se sentir invadida no seu próprio eu.
— Como assim?
Escolhi a mousse de chocolate com sorvete de creme, por favor.
— Como assim, você vai duas vezes por dia às compras?
— Lógico,! Nos arredores da minha quadra os vendedores já sabem que estou procurando ingredientes para preparar o almoço ou jantar. São eles que apontam para as novidades, os frescos, os tenros, os perfumados, os saborosos, enfim, para a qualidade. É a relação de compartilhar o prazer do saber de cada produto, descobrir os macetes, numa cumplicidade que une os apaixonados pela gastronomia, não é uma simples transação mercantil; estamos falando de produtos para realizar uma receita e presentear a si e aos outros.
Assim, eu descobri que o pequi se parece com um abacate, cujo o caroço de cor dourada libera um aroma típico e marcante, propício para temperar galinhada, massas frescas e sobremesas. Que, em Brasília, plantam-se alcachofras bojudas com coração de carne farta e firme; aspargos verdes e finos que, num piscar de olho ficam crocantes, quando salteados no azeite de castanha do Brasil; uma variedade de minialfaces, decorativas, crocantes e coloridas para alegrar as saladas com queijo Tomme produzido em Corumbá ou com queijo frescal orgânico da fazenda Malunga.

Nenhum comentário:

Postar um comentário