Teorias, pesquisas e reflexões sobre a gastronomia brasileira, por Quentin Geenen de Saint Maur
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Culinária Guá Yvá
O Brasil inaugurou sua gastronomia “fusão” na época do descobrimento, quando os conquistadores começaram a incorporar ao seu cardápio os ingredientes indígenas.
Os colonos portugueses aculturaram-se aqui e nas várias partes do mundo assimilando os produtos disponíveis in loco, sem deixar de preservar seus pratos tradicionais. Para se aconchegar no conhecido e matar a saudade da pátria, iniciaram um novo comércio de temperos entre os continentes.
Sal, rapadura, carne seca ou moqueada, farinha de mandioca faziam parte da dieta espartana dos bandeirantes. Essa culinária tinha que sustentar os esforços físicos dos tropeiros e longas semanas de expedições terra adentro.
Os africanos assimilaram a mandioca na sua culinária e gostaram tanto que levaram a raiz para seus países de origem.
Outras culturas, mais puristas, ainda relutam em passar por este processo de evolução com medo de perder sua identidade.
Durante séculos as inovações na área da gastronomia foram feitas por aqui com ingredientes vindos de fora do país. O destaque ia para produtos exóticos como a maçã, a pêra, o morango, as nozes, as avelãs, o alho porró, o salsão, o salmão, o bacalhau, o azeite, “secos e molhados” que davam notoriedade e prestígio aos banquetes com eles preparados.
500 anos se passaram, o guaraná se integrou às receitas de estimulantes e refrescos no nosso dia a dia, a cachaça ganhou roupa nova e distinção, o café voltou a ser orgulho nacional. O vinho está hoje passando por uma grande revolução, investindo e diversificando suas áreas de cultivo no Nordeste e no Sul.
O cacau da Amazônia está sendo estudado para entrar na lista dos próximos produtos a se destacar, depois de ter sido quase erradicado no sul da Bahia.
Na década dos 80, a tendência da nouvelle cuisinne, com sua filosofia de utilizar ingredientes frescos, do terroir, veio valorizar novos sabores, texturas e perfumes dos produtos originários.
Hoje os Chefs brasileiros com reconhecimento e formação internacional marcam sua identidade agregando cada vez mais produtos genuínos, proveniente de pequenos produtores, de manejo ou de colheitas sustentáveis, para se sobressair e enriquecer suas criações, revendo receitas tradicionais. É com a ajuda deles e da notoriedade da arte dos sabores que a grande diversidade de produtos daqui está caminhando para uma maior divulgação e relevância. Preconceitos sobre alguns ingredientes populares estão desabando pela destreza dos alquimistas dos sabores. Lá e cá apontam pequenos produtores, ousados, empolgados com a força desse movimento, que estão retomando o cultivo, a criação e a colheita de frutos, plantas, raízes e animais que estavam ameaçados de esquecimento e até desaparecimento.
As técnicas contemporâneas no preparo desses alimentos e a conscientização dos Chefs e do público só podem ajudar a fixar o retorno desses produtos, dando assim uma identidade à Gastronomia brasileira, a culinária Guá-Yvá (do guarani, Fruto da Natureza).
Só assim, com o reconhecimento e o uso dos produtos da terra no próprio Brasil, pode-se pensar em despertar interesse por eles nos mercados lá fora.
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