Objeto utilitário presente nas refeições, o guardanapo seguiu uma adaptação e transformação evolutiva desde a época dos egípcios e dos romanos, quando ele servia principalmente para enxugar o rosto suado dos convivas na mesa dos fartos e infindáveis banquetes.
Na Idade Média, sua finalidade permitia ao convidado levar sobras de comida dos banquetes para casa, uma espécie do nosso “dog bag”, até chegar ao século XX como um quadrado de papel absorvente multiuso e se juntar ao repertório de objetos descartáveis como copos, pratos e talheres.
Uma tomada de consciência recente está nos obrigando a repensar onde nos metemos com o uso indiscriminado e desenfreado dos descartáveis. A tendência em reduzir o consumo de sacos plásticos nos supermercados nos acena que os descartáveis não são uma salvação. Além de provocar uma permissível dependência eles são uma ameaça para o meio ambiente.
Imaginei uma Niède Guidon, arqueóloga brasileira, no futuro, encontrando em sítios arqueológicos pedaços de isopor, garrafas, talheres, pratos, sacos plásticos, pneus e baterias de celulares misturados a registros de alimentos. Lógico que teremos o registro da nossa civilização gravado na memória em algum banco de dados na terra ou no espaço. Vamos supor que a memória falhe e que os antropólogos e arqueólogos do futuro precisem remontar a nossa historia com base nos vestígios deixados pela nossa passagem por aqui.
O século da industrialização deixou vislumbrar uma maior igualdade no acesso aos bens por ela criados, em grande escala e a baixo custo, com relativo sucesso. O ser humano, com seus direitos adquiridos, ficou escravo de um consumismo desenfreado, alimentou uma insatisfação crônica, um desequilíbrio nos valores humanos e uma sede de possuir a qualquer custo referencias materiais que aparentemente iriam lhe proporcionar segurança na sociedade do século XX.
Enquanto a indústria parecia focar nas melhorias do bem-estar do homem, estava tudo bem. Procurando crescer a qualquer custo, ela está claramente ameaçando a nossa fonte de vida: a terra, o ar, a água e, em conseqüência direta, os alimentos. As empreitadas faraônicas, assinatura de alguns dirigentes megalomaníacos, estão claramente ultrapassadas nos nossos dias. Eu diria que são o símbolo de um retrocesso no horizonte promissor que nos dá a possibilidade de ser vanguarda e figura de proa numa era de conscientização e responsabilidade ambiental com o retorno à valorização do trabalho dos artesãos.
Na alimentação, um rápido olhar para as lixeiras das casas e dos restaurantes constata que muitos dos alimentos poderiam ser aproveitados em maior e melhor escala. Uma passagem pelas lixeiras nos fundos dos supermercados, pelas bancas no fim das feiras livres e nos boxes do Ceasa evidencia uma clara desatenção em relação ao valor dos produtos alimentícios e provoca um grito de vergonha para com os marginalizados. O que pensar desse desperdício e má gestão, contestável e defasada prova de riqueza, uma falta de consciência cívica e humanitária, uma responsabilidade ignorada e não assumida.
Limpa Brasil, uma compostura que começa por você.
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