sábado, 4 de julho de 2009

Notícias de Barcelona

Publicado na revista Roteiro Brasília

É sempre bom saber o nome do Chef do restaurante que você freqüenta. A casa pode ficar ancorada no mesmo endereço, mas o responsável pela cozinha pode viajar pelo Brasil e pelo mundo para aperfeiçoar seus conhecimentos e desenvolver novas técnicas.

Deu na telha ou se cansou do repetitivo, do cotidiano, e um Chef de verdade sai para se aventurar em outros sítios com o mínimo necessário, as roupas do corpo.

Fabio Taveiro fez isso. Trabalhou anos num buffet em Brasília. No fim do ano passado, fez parte de uma turma de Chefs convidados que quase chegou a assar um papagaio num programa de televisão. Meses atrás, tomou coragem, botou na bagagem sua flauta e suas partituras de choro e voou para Barcelona, o endereço da nova tendência da gastronomia na Europa.

Nos momentos livres Fabio encanta os catalães com obras de Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazaré e Ary Barroso, abrindo portas para um estilo de musica bem brasileira, ainda pouco conhecido na Europa.

No período da tarde, freqüenta a universidade de Barcelona para fazer um mestrado em história da gastronomia .
Os professores ligados ao Odela – Observatório da Alimentação, criado por Jesus Contreras, se revezam entre três universidades da Europa: Tours na França, Bologna na Itália e Barcelona na Espanha. Os alunos seguem cursos integrados, seminários e conferências e ficam de um a três meses tendo aulas em francês, italiano e espanhol.
As matérias teóricas dadas nas três línguas incluem o papel da gastronomia na economia, no social, nas técnicas relacionadas ao fazer, no patrimônio cultural e nos hábitos alimentares históricos e contemporâneos. O objetivo é ampliar o domínio do conhecimento dos alunos pela pesquisa nas fontes do saber escrito, das transmissões orais, iconográficas e audiovisuais na cultura gastronômica, para desenvolver sua capacidade de análise e seu espírito investigativo.

A duração do mestrado é de dois anos. O segundo ano é consagrado à realização de trabalhos monográficos, tipo artigos acadêmicos e uma memória final como conclusão do curso.

O inovador desse curso na gastronomia é que ele permite sair do campo do domínio das técnicas e receitas para situar a alimentação além das necessidades biológicas do ser humano e analisar suas interligações com os aspectos sociais, culturais e simbólicos e sua relação com a biodiversidade, território ou país.

Esse tipo de abordagem cria a possibilidade de recompor as cadeias alimentícias originais. No século passado, as técnicas de preparação dos alimentos foram se decompondo, se fechando, abandonando uma sinergia que assinala que eles estão todos interligados.

Inscreve-se na mesma tendência a valorização do trabalho de pequenos artesãos que também estão ligados às cadeias produtivas da alimentação.

Os pequenos produtores e artesãos não precisam de subsídio financeiro para sobreviver, mas de uma política que valorize seu trabalho e que divulgue os méritos e diferenciais das suas criações, como as panelas de barro, pedra e cobre, as colheres de madeira, as peneiras, os coadores de pano e outros utensílios que criam com suas mãos.

Boas notícias, Fabio. Aqui de Brasília, vamos acompanhar com interesse às descobertas desse jovem Chef à procura do seu caminho no vasto mundo da gastronomia.

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